O 25 de Abril e o Impacto nas Pessoas
"O 25 de Abril de
1974 inscreve-se na linha do 24 de Agosto de 1820 e do 5 de Outubro de 1910, ou
seja, na tradição histórica da liberdade contra a opressão da autoridade. Mas,
passados estes anos, o 25 de Abril é cada vez mais lembrança distante e menos
memória presente! Será que os portugueses não têm predisposição para a vivência
democrática? Ou não será a situação resultado de um processo deliberado de
esvaziamento do conteúdo simbólico do 25 de Abril – como aconteceu com o 24 de
Agosto e o 5 de Outubro? E não estará o regime democrático a seguir os passos
do Liberalismo e da I República?
Os revolucionários do
vintismo e do republicanismo ambicionaram resolver os ancestrais bloqueios da
sociedade e instaurar em Portugal um Estado moderno. Bateram-se pela
participação dos cidadãos na actividade pública, pela moralização da vida
política, pela instrução, educação e formação profissional, pela reorganização
do Estado, por uma política económica favorável às classes médias. Esses
esforços foram frustrados pela recuperação da estrutura da sociedade
tradicional e pela reacção das oligarquias dos velhos interesses e privilégios,
tudo no sentido de preservar um sistema de dominação económica de uma minoria,
apoiado na força de uma banca parasitária e nos rendimentos dos grandes
negócios especulativos. Num e noutro caso acabou por se optar pelos valores e
interesses instalados, à custa de uma actuação fortemente autoritária,
opressiva e corruptora, contra as reformas sociais e o progressismo cívico que
ambas as revoluções haviam anunciado. O Estado Novo mais não fez do que
consolidar esta anacrónica ordem social, pela anulação das incipientes
tentativas de modernidade, refugiando-se na glorificação do passado
quinhentista e seiscentista, fazendo da repressão arbitrária e violenta da
liberdade dos cidadãos uma prática normal e legal, arrastando finalmente os
portugueses para uma trágica guerra colonial que não podia ganhar nem podia
perder.
Esgotado o ciclo do
«Império», a Revolução de Abril «nasceu acompanhada da vontade de inventar um
outro destino para Portugal» - na feliz expressão de Eduardo Lourenço. Os
militares de Abril cumpriram no essencial as suas promessas fundamentais, de
devolução da soberania à Nação e da liberdade aos portugueses, de
democratização do país segundo os princípios da soberania popular, do
pluralismo político e da participação cívica, e lançaram as bases de um
desenvolvimento visando a realização da democracia económica, social e cultural
para um Portugal mais livre, justo e fraterno. Com todas as dificuldades,
limitações e contradições, qualquer balanço sério não poderá deixar de
evidenciar o claro progresso registado no país depois daquela histórica data.
É verdade que ficou muito
por fazer. Mas o grave é que, passados estes anos, persista um nível médio de
desenvolvimento e de qualidade de vida da população em grande desfavor face à
generalidade dos Estados-membros da União Europeia. E o mais preocupante é que,
em aspectos essenciais, se tenha trocado o projecto de Abril pela teologia de
um mercado, novamente ao serviço de uma minoria predadora da riqueza nacional,
onde o negócio especulativo, o enriquecimento fraudulento, a corrupção
económica e fiscal, a promiscuidade entre o político e o económico e entre o
público e o privado acabam por ditar as regras.´
Os efeitos são cada vez
mais visíveis:
- agravamento das assimetrias regionais e das desigualdades sociais;
- aumento do desemprego, da pobreza e das injustiças sociais;
- regresso da fome e da emigração;
- deterioração dos direitos à saúde, educação e segurança social;
- destruição da segurança no trabalho e enfraquecimento da classe média.
Tudo sob o argumento
equívoco do controlo das contas públicas e da preservação do futuro dos
portugueses. É certo que existe uma situação de défice orçamental excessivo que
é necessário corrigir. Mas, como noutras épocas, o mal principal de que sofre o
país é mais profundo. O que em Portugal está em crise, e há muito tempo, é a
própria sociedade. E o tratamento entretanto aplicado apenas tem reduzido os
efeitos secundários, agravando a doença principal. Será que os portugueses não
aprendem com a sua história? Ou não será antes que alguns a deturpam, silenciam
e lha fazem esquecer?
O 25 de Abril foi
liberdade e foi cidadania. Como o tentaram ser antes o 24 de Agosto e o 5 de
Outubro. Mas trocaram as suas bandeiras pela autoridade e pela ordem. Por isso
falharam os primeiros. Por isso o 25 de Abril está a falhar! Mas quem falhará
com ele será, outra vez, Portugal! A solução está em mais cidadania, mais
participação dos cidadãos, mais Abril. Não em outra!"
Fonte:
https://www.calendarr.com/portugal/dia-da-liberdade-25-de-abril/http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=th15
https://www.publico.pt/2017/04/25/ciencia/noticia/quando-um-astronauta-se-lembra-do-25-de-abril-1769964
https://ionline.sapo.pt/317317
Comentários
Enviar um comentário